
UTAY, J.; MILLER, M. Guided imagery as an effective therapeutic technique : a brief review of its history and efficacy research. Journal of instructional psychology, v. 33, n. 1. mar. 2006.
OAKLANDER, Violet. Descobrindo crianças : abordagem gestáltica com crianças e adolescentes. São Paulo : Summus, 1980.
A visualização ou imagem mental é, segundo Epstein (1989), a mente pensando por meio de imagens. Para Achterberg (1985) apud Carvallho (1994), a imagem é o processo de pensamento que evoca o uso dos sentidos – visão, audição, olfato, gustação, o sentido do movimento, posição e toque. É o mecanismo não-verbal e não-lógico de comunicação entre a percepção, a emoção e a mudança corporal. As imagens mentais são o conteúdo da imaginação.
Não estamos acostumados com esse tipo de pensamento (por imagens), pois o pensamento lógico ganhou precedência sobre os demais a partir do século XVII, por ser a base da ciência (EPSTEIN, 1989). A metodologia científica clássica fez com que a ciência médica se afastasse do pensamento não-lógico, não-verbal, não-linear.
Entretanto, a utilização médica da imaginação por intermédio das imagens é comum em várias culturas no decorrer da história. Segundo Carvalho (1994, p.162), "na medicina primitiva, nos feiticeiros ou shamans, o uso da visualização era comum e freqüente. Desde as mais remotas informações sobre curas na China, no século XVIII a.C., no antigo Egito, no Tibet, nos oráculos gregos, na África e entre os esquimós, encontramos relatos sobre o uso da visualização. sclepius, Aristóteles, Galeno e Hipócrates, considerados pais da medicina ocidental, usavam visualizações para o diagnóstico das doenças e para os tratamentos. Nos indígenas norte-americanos e sul-americanos, o uso das imagens mentais é comum até hoje nos seus rituais de cura".
No início do século XX métodos de imagens mentais começaram ser usados para tratar principalmente problemas emocionais: Robert Desoille, médico francês, propôs a técnica do “sonho acordado dirigido” ou “sonho desperto” (rêve éveillé); Carl Gustav Jung, a “imaginação ativa”; Hans Carl Leuner, a “imaginação dirigida” (ou “imagens efetivas direcionadas”); Roberto Assagioli, a “psicossíntese”; Schultz, o “treinamento autógeno”. Mais recentemente Fritz Perls propôs trabalhos de fantasia dirigida, o psicodrama interno, desenvolvido a partir do trabalho de Moreno, a utilização da visualização na técnica comportamental de Wolpe e tantos outros.
Hoje existem também pesquisas e trabalhos clínicos utilizando a visualização como recurso terapêutico no tratamento de diferentes enfermidades, tais como as alergias, as infecções, as desordens auto-imunes, como a esclerose múltipla, a artrite reumatóide, o câncer e a AIDS (CARVALHO, 1994).
EPSTEIN, Gerald. Imagens que curam. Campinas, SP : Livro Pleno, 1989.
CARVALHO, Maria Margarida M. J. Visualização e câncer. In: _____. (Org.). Introdução a psiconcologia. Campinas, SP : Editorial Psy, 1994.
HOUAISS, Antônio. Dicionário eletrônico da língua portuguesa. Rio de Janeiro : Objetiva, 2002. 1 CD-ROM.
Durante trezentos anos a medicina ocidental tem separado o corpo da mente. Conforme coloca Epstein (1989), na história do mundo, nenhum outro sistema médico, incluindo a medicina ocidental anterior ao século XVII, faz essa distinção. A partir do final do séc. XIX, as conexões entre corpo e mente começam novamente a ser exploradas na psicologia comportamental, na medicina psicossomática, na psiconeuroimunoendocrinologia e na psico-oncologia[1], por exemplo. Apesar do avanço das pesquisas nesta área a questão da influência mente/corpo ainda é vista com preconceito pela medicina ocidental, apesar de o inverso, a influência corpo/mente, ser amplamente aceita e utilizada, por exemplo, por meio dos analgésicos, antidepressivos e neurolépticos.
De acordo com Carvalho (2002) enquanto na medicina oriental o homem sempre foi visto como uma unidade indivisível, no ocidente esta unidade desapareceu por um longo tempo. Na Idade Média houve uma separação entre corpo e alma e predominou a noção de que as doenças eram punições divinas. No Renascimento, a proposição de Descartes separando mente e corpo permitiu um grande avanço científico no estudo das doenças do corpo e trouxe a visão do homem como um composto de partes separadas. A visão cartesiana deu origem ao modelo biomédico, no qual as doenças podem ser explicadas por distúrbios em processos fisiológicos, que surgem a partir de desequilíbrios bioquímicos, infecções bacterianas, viróticas ou outras e independem de processos psicológicos e sociais (CARVALHO, 1998 apud CARVALHO, 2002).
Do século XVII ao XIX a medicina ocidental separou o corpo da mente, criando tratamentos específicos para as doenças físicas. No final do século XIX Freud, em seus "Estudos sobre Histeria", retoma a integração mente-corpo demonstrando que acontecimentos psíquicos podem ter conseqüências orgânicas. No século XX o modelo biopsicossocial da Medicina passa a buscar as inter-relações entre os aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Em 1939 é fundada a Associação Americana de Medicina Psicossomática, termo que significa, na literatura científica atual, a inter-relação entre mente e corpo. Na década de 70 é publicada a revista de Medicina Comportamental (Journal of Behavior Medicine), cuja finalidade era a integração das pesquisas das Ciências Sociais e Biomédicas e sua aplicação nos tratamentos médicos. Em 1981 Robert Adler publica o livro Psiconeuroimunologia, dando início a uma nova disciplina que congrega a pesquisa científica do campo das interligações entre os sistemas endócrino, imunológico e nervoso. Na sua amplitude maior, a Psiconeuroimunologia visa estudar a inter-relação mente-corpo através dos mecanismos pelos quais os sistemas psicológico e fisiológico se comunicam.
[1] De acordo com a Associação Internacional de Psico-Oncologia, a Psico-oncologia é uma subespecialidade da Oncologia, que procura estudar as duas dimensões psicológicas presentes no diagnóstico do câncer: 1) o impacto do câncer no funcionamento emocional do paciente, sua família e profissionais de saúde envolvidos em seu tratamento; 2) o papel das variáveis psicológicas e comportamentais na incidência e na sobrevivência ao câncer (CARVALHO, 2002).
EPSTEIN, Gerald. Imagens que curam. Campinas, SP : Livro Pleno, 1989.
CARVALHO, Maria Margarida M. J. Psico-oncologia : história, características e desafios. Psicol. USP, São Paulo, v. 13, n. 1, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642002000100008&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 09 set. 2007.
Yoga é uma filosofia de vida que se originou na Índia há mais de 5.000 anos. Yoga significa união e sua prática visa unir e integrar o corpo, a mente e as emoções.
Existem várias modalidades de Yoga, cada uma enfocando mais um aspecto do que outro. As técnicas mais utilizadas no Yoga são: Ásanas (exercícios físicos), Pranayama (exercícios respiratórios), Yoganidra (“sono lúcido”) e Meditação (sentar-se quieto e observar a si mesmo).
Yoganidra é um processo de relaxamento consciente composto de várias etapas e foi compilado de práticas da tradição tântrica (Ribeiro, 2007). Nidra é um termo em sânscrito que significa sono e Yoganidra pode ser traduzido como “sono psíquico” ou “sono lúcido”. De acordo com Saraswati (1962) na Yoganidra o padrão de ondas cerebrais se encontra em alfa, no estado entre o sono e a vigília, em que se pode vivenciar profundo relaxamento, estados visionários, sonho consciente e imagens simbólicas. O Yoganidra propõe a evocação de sensações, visualizações, o uso criterioso da imaginação e organização dos pensamentos.
O Yoganidra de Saraswati possui diferentes níveis: para iniciantes, intermediários e avançados, e dentro desses níveis seguem-se oito passos:
1- Preparação (prastuti) – deitado, o praticante deve sentir seu corpo e os apoios em relação à terra. Focalizar sua atenção no objetivo do Yoganidra, com uma sugestão positiva para si mesmo. Mentalizar que nenhuma parte do seu corpo se moverá e que não dormirá durante a prática. Deve remover todas as preocupações, tensões e conflitos e permitir que sua mente se aquiete.
2- Relaxamento (sithilikarana) – o praticante deve soltar todas as partes do corpo, desde os pés até a cabeça. Com os olhos fechados, deitado em decúbito dorsal, inspirar emitindo o som “sss”” sibilante e expirar emitindo o som de “h”, por cinco minutos.
3- Resolução (sankalpa) – sankalpa pode ser traduzido como uma resolução ou uma determinação que o praticante faz em relação ao seu direcionamento na vida. Deve-se repetir mentalmente a resolução por três vezes usando as mesmas palavras.
4- Rotação de consciência rápida (bahir nyasa)
a) Nyasa externo – o praticante deve tocar mentalmente cada parte do seu corpo seguindo sempre a mesma seqüência.
b) Rotação interna da consciência (antarnyasa) – o praticante deve focalizar sua atenção em cada chakra, visualizando o máximo de detalhes deste (cor, mandala, elemento, etc.), repetindo mentalmente o bija (som semente) de cada chakra.
5- Purificação dos canais sutis com contagem regressiva (nadi sodhana) – sem usar os dedos para tampar as narinas, o praticante deve imaginar o prana (ar, energia) fluindo pela narina esquerda na inspiração e pela narina direita na expiração. Deve começar a contagem de 27 inspirações pela narina direita e, depois, trocar na expiração pela narina esquerda. Depois deve sentir sua respiração natural e espontânea.
6- Visualização de cenários (kalpanika caladdrsya-darsana) – o praticante deve visualizar mentalmente uma seqüência de imagens de reverência, como por exemplo, flores, pássaros, natureza, montanha, igreja, cachoeira, floresta e outros símbolos.
7- Resolução (sankalpa) – a resolução ou determinação deve ser repetida novamente usando as mesmas palavras.
8- Término (samapti) – o praticante volta sua atenção para a passagem do ar pelas narinas. Percebe o espaço onde se encontra e o contorno do seu corpo. Espreguiça o corpo todo, piscando algumas vezes. A prática do Yoganidra está completa.
RIBEIRO, Patrícia. A arte de relaxar: o Yoganidra permanece a ferramenta essencial para recuperar a disposição, melhorar a qualidade do sono e o foco mental. Revista Prana Yoga Journal, n. 5, 22 jun. 2007. Disponível em: http://eYoga.uol.com.br/scripts/materia/materia_det.asp?idMateria=364&idCanal=4 Acesso em: 19 out. 2007.
SARASWATI, Swami Satyananda. Yoga-nidra. Munger, Bihar : Bihar School of Yoga, 1962.