quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Alquimia


A alquimia, de acordo com o dicionário Houaiss, era a química da Idade Média, que procurava descobrir a panacéia universal, ou remédio contra todos os males físicos e morais, e a pedra filosofal, que deveria transformar os metais em ouro.

Segundo Jung (1990, p. 290), o conceito de “imaginatio” (imaginação) tem um significado especial no “opus” (obra) alquímico. O processo de imaginação na alquimia não deve ser encarado como imagens de fantasia, mas “como algo corpóreo dotado de um “corpus” sutil de natureza semi-espiritual”. Os conteúdos inconscientes dos alquimistas eram projetados na matéria. Para os alquimistas a matéria era parte espiritual, parte física, concretização que não raro encontramos na psicologia dos primitivos. Assim sendo, a “imaginatio” ou ato de imaginar também é uma atividade física que pode ser encaixada no ciclo das mutações materiais; pode ser causa das mesmas ou então pode ser por elas causada. Deste modo, o alquimista estava numa relação não só com o inconsciente, mas diretamente com a matéria que ele esperava transformar mediante a imaginação. [...] A “imaginatio” é, pois um extrato concentrado das forças vivas do corpo e da alma (JUNG, 1990, p. 290).

Segundo Jung (1990) o conceito de “imaginatio” é talvez a chave mais importante para a compreensão do “opus” alquímico. Trata-se de “representar e realizar a “coisa maior” que a “anima” [alma], como ministro de Deus, imagina criativamente e “extra naturam” [não pertencem ao mundo empírico]” (p. 295). Jung cita o tratado alquímico De Sulphure, de autor anônimo, que fala da faculdade imaginativa da alma. Segundo este tratado a alma opera no corpo, mas a maior parte de sua função é exercida fora deste, imaginando coisas muito mais elevadas do que o corpo do mundo pode conceber; essas coisas estão alem da natureza e são os próprios mistérios de Deus. [...] O que a alma imagina acontece apenas na mente [... mas] quando ela quer tem o maior poder sobre o corpo; pois de outra forma nossa filosofia seria vã (JUNG, 1990, p. 292).

JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia. Petrópolis, RJ : Vozes, 1990.

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